quarta-feira, 2 de março de 2011

Freitas do Amaral sugere investigação de pistas de Ramalho Eanes sobre o caso Camarate

«Freitas do Amaral sugeriu aos deputados da Comissão de Inquérito ao caso Camarate que o general Ramalho Eanes terá pistas a dar sobre os relatórios e contas do Fundo de Defesa Militar do Ultramar.


- Freitas do Amaral -

"Se o senhor general Ramalho Eanes nos diz, assumindo a responsabilidade, que leu esses relatórios, que os homologou, que os mandou colocar em arquivo confidencial e que é lá que devem ser procurados, então eu acho que a comissão podia tentar descobrir onde é que esses relatórios estiveram arquivados", afirmou.

Diogo Freitas do Amaral falava, em Lisboa, numa audição na IX Comissão Parlamentar de Inquérito ao Caso Camarate, que investiga as causas e circunstâncias da queda do avião que, a 4 de Dezembro de 1980, vitimou o então primeiro-ministro Sá Carneiro, o ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa e todos os restantes elementos da comitiva que seguiam a bordo.

Os deputados da comissão já admitiram chamar o ex-presidente da República Ramalho Eanes, que, por ter ocupado aquele cargo, tem a prerrogativa de responder por escrito.

Freitas do Amaral, que assumiu "parte da responsabilidade" na criação da IX Comissão de Inquérito devido ao apelo público que fez no seu livro "Camarate - Um Caso ainda em Aberto" - considerou importante que a comissão dê seguimento a uma das pistas de investigação que deixou na obra: o que sucedeu ao Fundo de Defesa Militar do Ultramar.

O ex-governante disse que da investigação poderão ou não surgir indícios de actividade criminal, nomeadamente utilização indevida ou desvio de dinheiro, e também alguma pista relacionada com o desastre de Camarate.

Freitas Amaral citou declarações públicas de Ramalho Eanes, de Dezembro, nas quais o ex-chefe do Estado garante que existiam relatórios anuais sobre a actividade do FDMU e que ele próprio os homologou, entre 1976 e 1981, quando abandonou o cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA).

"Tendo sido CEMGFA de 76 a 81, saberá explicar muitas das coisas que nós não sabemos", disse Freitas do Amaral, referindo que Ramalho Eanes afirmou "que mandou arquivar os relatórios como documentos confidenciais".

Freitas do Amaral sugeriu que a comissão "podia tentar descobrir onde é que esses relatórios foram arquivados", declarando que o ex-presidente da República saberá certamente dar as pistas sobre onde foram arquivados como documentos confidenciais".

Segundo o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, o FDMU tinha uma conta principal e mais duas que podiam ser movimentadas por um membro do conselho de administração do fundo. Seria por essas duas contas "que passava o maior volume de receitas", sendo que não há "qualquer reflexo dessas movimentações" na contabilidade do fundo, acrescentou.

A investigação ao FDMU assume relevância a partir do momento em que se soube que o então ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa "andava a investigar" as actividades daquele fundo, disse Freitas do Amaral.

"Só na sexta comissão de inquérito, que acaba em 1999, é que pela primeira vez se refere o FDMU" e a "sensação de perigo sentida por Amaro da Costa, o facto de ter pedido uma arma pessoal" naquela altura, frisou Freitas do Amaral, justificando o facto de nunca antes desse momento ter relacionado a questão do Fundo de Defesa Militar do Ultramar com a queda do avião. "Antes disso, toda a gente pensava que o destinatário do atentado era Sá Carneiro", apontou.»


in JN online, 02-3-2011


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