quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Homicídio de Rosalina Ribeiro: As 193 perguntas da polícia brasileira a Duarte Lima

O Expresso revela em primeira mão todas as questões do departamento de homicídios do Rio de Janeiro dirigidas a Duarte Lima sobre o caso do homicídio de Rosalina Ribeiro. Na carta rogatória, à qual o advogado nunca respondeu, a polícia levanta suspeitas sobre o dinheiro transferido de Rosalina para Duarte Lima.




CARTA ROGATÓRIA

ROSALINA DA SILVA CARDOSO RIBEIRO, cidadã portuguesa, mantinha residência no Rio de Janeiro, mais precisamente na Praia do Flamengo 60/701 - Flamengo - Rio de Janeiro, onde anualmente passava alguns meses, notadamente no período de outubro a dezembro.

A senhora ROSALINA foi durante mais de trinta anos, secretária e companheira do também cidadão português, LÚCIO THOMÉ FETEIRA, um multimilionário falecido no ano de 2000, e que possuía vários empreendimentos e negócios no Brasil e Portugal, além de outros países.

Com a morte do senhor FETEIRA, teve início uma acirrada disputa nos tribunais, tanto do Brasil como de Portugal, entre a senhora ROSALINA e OLÍMPIA DE AZEVEDO TOMÉ FETEIRA DE MENEZES, filha do falecido LÚCIO THOMÉ FETEIRA.

Na noite de 07 de dezembro do ano de 2009, por volta das 19h59min, a cidadã portuguesa ROSALINA DA SILVA CARDOSO RIBEIRO, nascida em 29/01/1935, filha de Joaquim Acácio e de Abília da Silva Cardoso, identidade de estrangeiro W377016-1, deixou sua residência localizada na Praia do Flamengo, 60/701 no bairro do Flamengo - Rio de Janeiro, para ir ao encontro do também cidadão português, DOMINGOS DUARTE LIMA, advogado de ROSALINA em Portugal, o qual se encontrava no Rio de Janeiro.

A senhora Rosalina jamais retornou a sua residência, e face ao seu desaparecimento, foi confeccionado, em 10 de dezembro de 2009, um registro na 9ª Delegacia Policial (Catete), sob o número 009-07263/2009, por NORMANDO ANTONIO MARQUES, brasileiro e advogado de ROSALINA no Brasil.

Conforme registro número 124-02767/2009, da 124ª Delegacia Policial (Saquarema), datado de 08 de dezembro de 2009, o corpo foi localizado as margens da rodovia RJ 118, e apresentava ferimentos compatíveis com projétil de arma de fogo (PAF), e quando do encontro não foi identificado.

Em 19 de Dezembro de 2009, o corpo da senhora ROSALINA DA SILVA CARDOSO RIBEIRO foi localizado e identificado no Instituto Médico Legal (IML) da cidade de Cabo Frio, por policiais do SDP/DH (Seção de Desaparecimento e Paradeiros da Divisão de homicídios).

Tem início, assim, o Inquérito número 901-00021/2010, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, para apuração do crime.

Pelo que se sabe até o momento, a última pessoa a estar com a senhora ROSALINA em vida foi o cidadão português DOMINGOS DUARTE LIMA.

Os primeiros informes sobre este encontro são conflitantes. DOMINGOS DUARTE LIMA afirma informalmente que esteve sim na companhia da senhora ROSALINA e que o encontro foi pedido e marcado por ela.

Amigas e amigos de vítima afirmam o contrário, que teria sido DOMINGOS DUARTE LIMA a pedir o encontro com sua cliente, e mais, não seria ele que iria a tal encontro, mas sim uma pessoa a seu mando, cujo nome não iria declinar, pois desconfiava que o telefone residencial da vítima ROSALINA estivesse sob escuta ilegal.

Tal versão teria sido transmitida pela vítima para as amigas e amigos, enquanto permanecia na sua residência a espera de tal pessoa. A vítima ROSALINA teria dito mais: que tal encontro deveria ocorrer no restaurante Alcaparras, localizado próximo de sua residência, segura e fácil de se chegar, já que não teria nada para oferecer ao visitante, pois estava de viagem marcada para retornar à Portugal, cinco dias à frente, ou seja, dia 12 de dezembro, e já com as malas prontas.

A filmagem das câmeras de segurança dos prédios da vizinhança corrobora tal versão. A vítima se encaminha para o local onde funciona o restaurante Alcaparras, porém, conforme posteriormente verificado, seja pela filmagem das câmeras de segurança do restaurante, bem como entrevista com funcionários, ali não entrou.

Instado, por telefone, a explicar detalhes do seu encontro com a senhora ROSALINA, DOMINGOS DUARTE LIMA fornece dados que fogem a lógica, e não se encaixam.

Diz, por exemplo, que marcou o encontro "junto à residência da vítima". Ora, o que significa "junto à residência"? O quarteirão onde residia a vítima é grande. "Junto à residência" seria do lado esquerdo ou direito de quem sai do prédio? E em que ponto especificamente? A senhora ROSALINA, por seus costumes, jamais permaneceria parada na calçada a espera de alguém, principalmente naquele horário, já que tinha verdadeiro pavor de violência, conforme relatam suas amigas e amigos.

DOMINGOS DUARTE LIMA, informa por Fax a 9ª Delegacia Policial (Catete), e posteriormente a policiais desta Divisão, que o seu encontro com a senhora ROSALINA, durou cerca de meia hora, e ocorreu em uma cafeteria localizada nas proximidades. Não sabe, entretanto, dizer onde ficaria tal estabelecimento.

Terminado o encontro, DOMINGOS DUARTE LIMA afirma que a senhora ROSALINA teria dito que chamaria um táxi, para levá-la até a cidade de Maricá onde iria tratar de assuntos relativos ao espólio. Ele então teria se oferecido para levá-la. E assim, continua DOMINGOS DUARTE LIMA, o fez. Teria deixado à senhora ROSALINA em frente ao hotel Jangada, localizado no centro de Maricá, e ali a esperava uma mulher loura, aparentando cerca de 50 anos, de nome GISELE, ao lado de um veículo Honda de cor cinzenta.

DOMINGOS DUARTE LIMA, após deixar ROSALINA, informa ter retornado ao Rio de Janeiro, e no dia seguinte, 08 de dezembro de 2009, se deslocado até a cidade de Belo Horizonte, distante 460 km do Rio de Janeiro, de onde embarcou para Portugal.

A morte da senhora ROSALINA ocorre no máximo a duas ou três dezenas de minutos após DOMINGOS DUARTE LIMA a ter deixado em Maricá, o que equivale ao tempo do percurso de carro do hotel Jangada até o local onde a senhora ROSALINA foi executada.

Depreende-se pois, pelo que afirma DOMINGOS DUARTE LIMA, e em confronto com a versão de testemunhas de áudio, considerando-se os horários, que em última instância, a senhora ROSALINA foi levada aquele local para ser assassinada

A grande maioria das perguntas formuladas a DOMINGOS DUARTE LIMA, por policias desta Divisão, ficaram sem respostas. A uma porque ele não lembrava. A duas porque alegava estar sob sigilo profissional. Outras não respondeu simplesmente por não achá-las úteis para a investigação.

Existem então várias dúvidas que apenas DOMINGOS DUARTE LIMA pode esclarecer, principalmente quanto ao seu encontro com a senhora ROSALINA, na fatídica noite do dia 07 de dezembro de 2009.

Muito embora tenha DOMINGOS DUARTE LIMA enviado cópia do pedido feito a Ordem dos Advogados de Portugal, em fevereiro deste ano, no sentido de ver suspenso o sigilo profissional, até a presente data não houve comunicação informando se seu pedido foi ou não deferido.

Há também fortes indícios de que DOMINGOS DUARTE LIMA, poderia estar a lavar (branquear) valores sacados pela vítima, no montante de cerca de aproximadamente seis milhões de euros, de contas correntes do falecido LÚCIO THOMÉ FEITEIRA, e que teriam sido posteriormente transferidos para contas de DOMINGOS DUARTE LIMA, conforme documentação enviada pelas autoridades da Suíça, anexada ao presente Inquérito Policial.

Várias perguntas, tanto via telefone como por correio eletrônico, não tiveram respostas, e quando em contato telefônico com Policiais desta Divisão de Homicídios, DOMINGOS DUARTE LIMA afirmou não ter nenhuma previsão de vir ao Brasil e que preferiria ser ouvido através carta rogatória.

Assim sendo, não se vislumbrando outra forma de dirimir as dúvidas existentes, e que são fundamentais para o andamento da presente investigação, solicitamos a oitiva do cidadão adiante qualificado:

DOMINGOS DUARTE LIMA, advogado, cidadão português, filho de Adérito Lima e de Maria de Jesus Duarte, nascido em 20 de novembro de 1955, em Poiares, Peso da Régua, bilhete de identidade número 3663590-1, com escritório na Avenida Visconde de Valmor, número 1-A 11º B - Lisboa - Portugal, devendo o mesmo responder as perguntas que se seguem:


PDF com as 193 questões dirigidas a Duarte Lima



in Expresso online, 13-10-2010

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